A Resistência dos Pais à Terapia dos Filhos
Matheus Vieira da Cunha
7/27/20255 min read
O Desejo de Terapia entre Adolescentes
A adolescência é uma fase marcada por intensas transformações emocionais e psicológicas. Durante este período, os adolescentes frequentemente enfrentam a complexidade de estabelecer sua identidade, o que pode gerar insegurança e confusão. Eles estão em busca de respostas para quem são e como se posicionam no mundo. Essa busca pode ser desencadeada por relacionamentos interpessoais complicados, pressões sociais e acadêmicas, bem como questões relacionadas à autoimagem e autoaceitação.
Os adolescentes, muitas vezes, se sentem sobrecarregados por essas demandas internas e externas, levando-os a buscar apoio fora do seu círculo familiar. A terapia emerge como uma possibilidade de receber orientações e suporte psicológico, funcionando como um espaço seguro onde eles podem explorar suas emoções livres de julgamentos. Essa busca por terapia pode ser vista como uma forma saudável de enfrentar os desafios da adolescência, permitindo que os jovens reflitam sobre suas experiências e aprendam a lidar com elas de maneira mais eficaz.
A escuta ativa e o reconhecimento dos sentimentos dos adolescentes desempenham um papel fundamental neste processo. Quando os jovens sentem que suas emoções são validadas, é mais provável que se sintam à vontade para expressar suas preocupações e vulnerabilidades. Este processo de aceitação e reconhecimento pode não apenas aumentar o desejo deles de entrar em terapia, mas também fortalece a relação terapêutica, favorecendo um ambiente propício para a cura e crescimento emocional.
Portanto, o desejo de terapia entre adolescentes não deve ser visto apenas como uma busca por auxílio, mas também como uma valiosa jornada de autoconhecimento. Um espaço destinado à reflexão pode auxiliá-los a navegarem pelas turbulentas águas da adolescência, contribuindo para uma melhor saúde mental e emocional a longo prazo.
A Resistência dos Pais: Medos e Preocupações
A hesitação dos pais em permitir que seus filhos adolescentes busquem terapia é uma questão complexa, frequentemente enraizada em medos e preocupações variadas. Um dos fatores mais proeminentes é o medo do estigma social associado à terapia. Muitos pais temem que, ao encaminhar seus filhos para um psicólogo, sejam vistos como fracos ou incompetentes, o que pode resultar em julgamento por parte da comunidade. Esse estigma não apenas impacta a percepção dos pais, mas também a de seus filhos, criando um ciclo de resistência que pode levar à negação de problemas sérios que poderiam ser abordados em um espaço terapêutico seguro.
Ademais, muitos pais acreditam que os problemas enfrentados por seus filhos integram um rito comum da adolescência, considerando que experiências como a indecisão, a timidez ou as mudanças de humor são partes normais do crescimento. Essa visão pode levar a uma minimização da dor emocional que os adolescentes experimentam, desconsiderando a possibilidade de que esses desafios possam ser acumulativos e demandar intervenção profissional. Essa crença reforça a ideia de que a terapia não é necessária, o que resulta em resistência em buscar ajuda.
A falta de compreensão acerca dos benefícios da terapia também desempenha um papel crucial. Muitas vezes, os pais não têm um conhecimento sólido sobre como a terapia pode ser eficaz na promoção do bem-estar emocional e na resolução de conflitos internos. Essa falta de informação pode ser ampliada se a família não tiver experiências prévias positivas com serviços de saúde mental, resultando em um fortalecimento das barreiras à terapia. Por fim, a dinâmica da relação entre pais e filhos pode intensificar essa resistência, já que a necessidade de controle e a proteção excessiva podem levar os pais a evitar que seus filhos enfrentem experiências dolorosas, limitando sua capacidade de crescimento e superação.
Fundamentos Psicanalíticos: A Importância do Reconhecimento do Desejo
A psicanálise oferece uma perspectiva abrangente sobre as relações interpessoais e, especificamente, como o desejo do adolescente pode entrar em conflito com as certezas ou resistências dos pais. Um dos conceitos centrais da teoria psicanalítica é a transferência, que ocorre quando os sentimentos e desejos são projetados em diferentes figuras significativas, frequentemente revelando dinâmicas estabelecidas na infância. No contexto da terapia, a transferência permite aos adolescentes explorar seus desejos e anseios em um espaço seguro onde podem se sentir ouvidos e entendidos.
O espaço analítico constituído na terapia é vital, pois fornecendo um ambiente onde o adolescente pode se expressar livremente, a saúde mental deles é promovida. O reconhecimento do desejo jovem não só valida suas emoções, mas também atua como um motor essencial para o desenvolvimento da individuação. Este caminho de autodescoberta é marcado por desafios e resistências, muitas das quais podem ser amplificadas pela reação dos pais ao ver seus filhos buscando ajuda profissional. A resistência dos pais muitas vezes indica um temor sobre o impacto que a terapia pode ter na dinâmica familiar e na identidade deles como cuidadores.
Ademais, o desejo do adolescente deve ser compreendido como um sinal de maturidade, um esforço para entender a si mesmo e, por conseguinte, para melhorar seu bem-estar emocional. Os jovens que buscam terapia geralmente estão atendendo a uma necessidade interna de reflexão e crescimento. Portanto, ao acolher essa vontade, os pais podem não apenas apoiar a saúde mental de seus filhos, mas também participar de um processo de entendimento mútuo. Assim, o reconhecimento e a aceitação do desejo do adolescente não servem apenas como uma forma de validação, mas também como um importante passo para promover um ambiente familiar mais saudável e solidário.
Caminhos para a Conexão: Promovendo um Diálogo Aberto
O diálogo aberto entre pais e filhos é fundamental para abordar a resistência dos pais à terapia dos filhos, permitindo que ambos expressem suas emoções e preocupações de forma respeitosa e construtiva. Este espaço de comunicação não apenas ajuda a esclarecer as intenções por trás do tratamento terapêutico, mas também fortalece os laços familiares essenciais para a saúde emocional do adolescente. É importante que os pais se disponham a ouvir, sem preconceitos, as razões pelas quais seus filhos podem se beneficiar da terapia, assim como os sentimentos que envolvem essa proposta.
Para facilitar essa troca, os pais podem começar por se informar sobre o processo terapêutico, entendendo não apenas como ele funciona, mas também quais são os benefícios potenciais para seus filhos. Essa atitude demonstra um interesse genuíno e pode ajudar a dissipar medos ou mal-entendidos que os jovens possam ter em relação à terapia. Ao considerar a possibilidade de acompanharem seus filhos em uma consulta inicial, os pais podem vivenciar em primeira mão a dinâmica do atendimento, o que pode ser desencadeador de empatia e compreensão mútua.
Além disso, criar um ambiente propício para o diálogo exige sensibilidade e paciência. Os responsáveis devem estar prontos para reconhecer e validar as emoções de seus filhos, mesmo que não concordem plenamente com elas. Estabelecer um espaço onde as opiniões e sentimentos sejam respeitados pode ser crucial para que o adolescente se sinta seguro para abrir-se, permitindo que os pais e filhos trabalhem juntos na construção de uma relação mais saudável.
Em suma, promover um diálogo aberto e respeitoso é um passo significativo para superar a resistência à terapia, podendo resultar na melhoria do entendimento familiar e na saúde emocional do adolescente. Essa abordagem reafirma a importância da conexão entre pais e filhos, facilitando um processo terapêutico que beneficia a todos os envolvidos.
Cordialmente,
Matheus Vieira da Cunha
Psicólogo Clínico e Psicanalista
Mestre em Psicologia (UFES)
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Psicólogo Matheus Vieira da Cunha
CRP 16/7659 - Mestre em Psicologia
